Poema de sarjeta e de trottoir ou piranho

Bato a cinza enquanto espero

Teu abraço me dá dor de cabeça

Vislumbro aquele olhar de soslaio

ainda é terno

é doce

é secreto

ainda procura algo em mim que talvez suponha perdido

Não sei o que viste no meu olhar

não sei o que consegui emanar

talvez a minha tímida desesperança nublada por

um olhar que se deixa escapar

Bom te olhar na penumbra daquela encruzilhada

ao som da fanfarra do êxtase que toca alucinadamente

no alto de uma escadaria

como nos filmes de guerra do Kusturica

Não sei se era ali que eu queria estar

te lanço um olhar quase sóbrio que não se permite mais embriagar

Nem me desiludo com o sorriso atravancado

Eu sei que de costas, de longe

você tá no trottoir

à espera daquela da vez que ainda vai chegar

Falar qualquer merda pra desanuviar

Sopro a fumaça no ar

Sopra a fanfarra os seus metálicos sons

Antes de partir sem despedida ouviria Bella Ciao

o libelo antifascista

Silêncio na sarjeta dos nossos arroubos passados

para mais uma vez desistir de estar lá

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